domingo, 21 de setembro de 2008

Relato #1

Finalmente me coloco a escrever para este blog, e logo quando não quero mais fazer sexo de verdade.

Meu nome é Luísa Astori e sou dessas brasileiras miscigenadas, mas isso não vem ao caso. Tenho 25 anos e trabalho numa empresa de publicidade, meio período.


Ontem eu estava sem carro e tive de pegar ônibus para me locomover. Fui ao centro. Era de tarde e eu estava na calçada do Theatro José de Alencar; queria comprar filmes pornôs, queria alguma excitação nova. Meu corpo estava frio e há algum tempo; um frio inquietante, sedento, desses que pedem algo, uma sensação, um calor. Queria o choque do quente e do frio. Em casa, um filme, minhas mãos e outros objetos não seriam o bastante, em absoluto, mas me contentariam. E nunca tinha comprado desses filmes. Dias antes, tinha ido a um cinema pornô no centro, achando que a decadência, tanto do lugar quanto dos freqüentadores, fosse me dar um prazer bizarro, mas o ogro que se sentara ao meu lado de pinto para fora, uma mão apertando a cabeça roxa do pau e a outra apertando meu braço, me fez abandonar a espelunca, brochada. Um verdadeiro filho da puta.

Não sou frígida, mas talvez esteja, e porque quero. Era fim de tarde, e fui de ônibus para o Dragão do Mar, fazer nada. Entrei em um museu, pensando em renovar idéias, mas só via falos e vaginas e sexo descontrolado. Estava em crise e não sabia lidar com ela. Casais passavam de mãos dadas, e me lembrara de minhas amigas e de seus relatos sexuais, conversando no intervalo do trabalho. Normalmente me excitava com as histórias, sabem, mas ontem tive nada.

Queria ir embora. No ponto de ônibus, um taxista primeiro me despiu e me comeu com o olhar e depois perguntou se eu queria táxi. É incrível como consigo perceber essas coisas. O 'não' da resposta foi imediato e saiu um 'obrigada' segundos depois. Ele parecia o ogro do cinema pornô. Em minha cabeça, o taxista se aproximava de mim, cutucando os dentes com um palito, me olhando como se me tivesse toda para ele e aquele cheiro nojento de suor, e meu ônibus chegara. Sentei antes da catraca, mas conseguia ver apenas o trocador e quatro pessoas de onde estava. Paguei, passei a catraca e sentei numa cadeira mais alta, da altura da do trocador e próxima a ele. Queria ficar no seu mesmo nível. Dali eu podia ver todos os quinze passageiros, fazendo todas as suas pequenas coisas tolas, e eles não me viam. A sensação foi legal. O controle era meu e me senti bem com isso. Gosto muito dessas cadeiras.

Olhei pela janela e vi um táxi passar. Lembrei do taxista-ogro e minha imaginação foi mais rápida que minha razão, e me vi excitada com a imagem inteiramente nova de uma transa no ponto de ônibus. Eu sentada na barra vermelha e ele em pé, me comendo, suando, urrando; as pessoas olhando; e eu gritava e de olhos abertos para vê-las, mas eu também com nojo e excitada, e os carros passando, meu ônibus passando, o trocador olhando... E voltando à realidade, o trocador era o único que podia me ver olhar para os outros, então olhei para ele. Ele olhava para mim e disfarçou. O controle ali não era totalmente meu e preciso ter o controle.

domingo, 3 de agosto de 2008

Eu, Jack, confesso.

Desejo uma mulher. E tenho considerável temor ao afirmar isso. Desejo-a, no entanto. Discretamente, persigo-a com os olhos. Por conta de toda minha cautela, mal a vejo, mal a escuto, mal a sinto.

Como a desejo! Observei-a pouco em relação ao tanto que necessito. Ela é simplesmente, ardentemente, instigantemente, atraente. Não sou de descrever as mulheres como se faz usualmente: “uma gostosa deliciosa”, por exemplo; nem de ficar divagando em idealismos românticos, “uma pessoa perfeita”. Não sou um pervertido banal ou um adolescente idealizador das coisas mais triviais.

O que quero com ela, não consigo negar, é sexo. Talvez algumas vezes, em diferentes lugares, de variados jeitos. Eu a vejo todo dia! Na natação, onde é possível conhecer mais intimamente várias mulheres. Mas só ela tem se tornado quase uma obsessão. Seus braços, seus ombros, suas coxas, seus seios...

Sua lembrança me vem como um deleite. Irresistível, deliciosa, plena. E é casada! Quando soube até decidi mudar o horário, sou muitas coisas, porém, definitivamente, não sou um destruidor de lares.

Embora tenha decidido, não me esforcei muito para pôr em prática. Logo eu, o senhor que leva tão a sério suas decisões! Continuei a me encontrar com ela, o que é prazerosamente interessante.

Há algo nela que me torna compulsivo. Descontroladamente, deixo, com esperança, que o acaso nos aproxime. E sei que não vai aproximar, não pode, nada vai acontecer. Isso é tão desanimador, é pior que descobri-la lésbica ou sem sexo.

Desejo-a sedentamente. Tenho que fechar os olhos ao mirá-la, para que, por um arrepio, não seja descoberto. Ando, nado a centímetros dela, quase sinto seu cheiro. Ouço sua voz, mas não a descodifico. Nem de longe posso parecer interessado; não é do meu feitio.

E quando nos olhamos? Assim, sem querer? Uma aflição me faz mudar rápido o olhar. Ah, pudera eu ser invisível para poder esquadrinhar famintamente. Eu examinaria minuciosamente cada parte...